O
que é toxocaríase?
A toxocaríase, também conhecida como Síndrome da Larva Migrans
Visceral (SLMV), é causada por parasita pertencente ao gênero
Toxocara, filo Nemathelmintes, classe Nematoda, ordem Ascaroidea,
família Ascaridae e subfamília Ascarinae. Este gênero possui 21
espécies, sendo que as se destacam são a Toxocara canis e a
Toxocara catti, que atacam cães e gatos, respectivamente. Esta
doença é uma antropozoonose de distribuição mundial. Este
parasita tem como hospedeiro definitivo os animais, mas pode atacar o
homem acidentalmente.
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Toxocara canis
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Dentre todos os agentes causadores da SLMV, o T. canis apresenta
características peculiares de ciclo biológico e padrão de migração
larvária, sendo assim a espécie mais frequentemente causadora da
doença.
Em cães, a infecção é mais comumente observada em cadelas prenhes
e lactantes, bem como nos seus filhotes, pois ocorre a contaminação
destes por via transplacentária e transmamária. Após o nascimento,
o parasita completa o ciclo nesses filhotes dentro de três a quatro
semanas de vida, eliminando os ovos deste parasita junto com as
fezes. Além deste tipo de infecção os cães podem infectar-se
através da ingestão de ovos infectantes, de larvas em tecidos de
hospedeiros paratênicos, ou ainda, ingestão pela cadela de larvas
do T. canis presente nas fezes ou vômitos dos seus filhotes, quando
esta fizer a higienização dos mesmos.
Após a entrada do ovo embrionado no organismo, este irá liberar a
larva no estômago e intestino delgado, que irão penetrar na mucosa
intestinal, alcançarem a circulação linfática ou sangüínea,
chegando ao fígado dentre de um período de 24 horas. Em seguida,
irão atingir o coração e os pulmões através da corrente
sanguínea. As larvas presentes nos pulmões podem passar dos
bronquíolos para a traquéia e faringe, sendo então deglutidas
(rota traqueal). Após ocorrida duas mudas, estas larvas irão
tornar-se vermes na luz do intestino, passando a colocar ovos que
aparecerão nas fezes dentro de 4 a 5 semanas após ocorrida a
infecção.
A rota traqueal, geralmente acontece em filhotes com menos de 5
semanas de vida, enquanto que em animais mais velhos, as larvas
migram do pulmão para o coração e, em seguida, para todos os
tecidos do hospedeiro, permanecendo quiescentes, podendo sobreviver
por muitos anos. Depende muito da espécie do animal, mas os lugares
preferencialmente acometidos são: fígado, rins, pulmões, músculos
e cérebro.
Já o homem pode adquirir este parasita através da ingestão de
ovos que contenham a larva em estágio infectante. No intestino
haverá a eclosão destes ovos que irão liberar a larva que
penetrará na mucosa intestinal. Esta irá migrar pela circulação
porta até o fígado, onde pode ser encapsulado ou migrar para os
pulmões e coração, sendo disseminado pela circulação sistêmica.
Pode haver lesão das paredes dos vasos, podendo haver hemorragias,
necrose e processos inflamatórios, que podem resultar no
encapsulamento fibroso dessas larvas no tecido acometido,
permanecendo viáveis por muito tempo.
Nos cães, os sinais clínicos mais comuns são: diarréia,
flatulência, distensão abdominal, desidratação e atraso no
desenvolvimento. Quando as larvas passam pelos pulmões, pode haver
tosse e quadro de pneumonia. A migração larval pode resultar em
alterações como celulite orbital, e em infecções muito grandes,
pode levar o animal à morte. Em relação às alterações
hematológicas, eosinofilia é considerada a principal.
No homem, a infecção pode ser assintomática, mas as manifestações
clínicas irão depender de fatores como: quantidade de carga
parasitária, padrão da migração larvária e resposta imune do
hospedeiro.
Atualmente, são descritas três formas de manifestações
clínicas:
O diagnóstico em cães pode ser o clínico, com a observação de
proeminência de abdome, anorexia, diarréia, pneumonia e presença
de parasitas imaturos em vômito. Para a confirmação, pode ser
feito testes laboratoriais através da constatação e identificação
microscópica de ovos em exame de fezes do cão, através do Método
de Flutuação. Em relação ao diagnóstico no homem, é feito
através de métodos indiretos, com detecção de altos níveis de
anticorpo IgG anti-Toxocara canis na corrente sanguínea ou fluídos
corporais. O método de diganóstico mais utilizado é o teste de
E.L.I.S.A.
Para o
tratamento e controle desta doença recomenda-se:
Eliminar os parasitas dos animais infectados;
Prevenir a contaminação do ambiente por fezes de cães;
Reduzir a população canina;
Fazer um programa de educação da população sobre o potencial
zoonótico desses nematódeos.
O ideal é fazer um esquema de tratamento anti-helmíntico dos
filhotes, para evitar que as larvas do T. canis cheguem à forma
adulta e liberem ovos. A OMS (Organização Mundial de Saúde)
recomenda realizar o tratamento na segunda, quarta, sexta e oitava
semanas de vida dos cães. O medicamento mais utilizado no tratamento
de animais com infecção instalada é o febendazole, na dose de 20
mg/kg. Nos cães adultos, é muito raro a toxocaríase, mas quando
ocorre a dose recomendada é a de 50 mg/ kg.